quarta-feira, junho 23, 2004

IDIOTICE É VITAL PARA A FELICIDADE
Ailin Aleixo

Ailin Aleixo é colunista da revista Vip, onde este artigo foi originalmente publicado.

Gente chata essa que quer ser séria e profunda.
Putz, coisa pentelha.
A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado do Schopenhauer?

Deixe a pungência para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores.
No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota.
Ria dos próprios defeitos, tire sarro de suas inabilidades.
Ignore o que o boçal do seu chefe proferiu.
Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele.
Pobre dele.
Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice.
Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo, soluções sensatas, objetivos claramente traçados mas não consegue rir quando tropeça?
Que sabe resolver uma crise familiar mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana?
Sim, porque é bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E daí, o que elas farão se já não têm por que se desesperar? Em suma: desaprenderam a brincar.
Eu não quero alguém assim comigo.
A realidade já é dura; piora se for densa. Dura e densa, ruim.
Brincar é legal. Entendeu?
Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não se descontrolar, não demonstrar o que sente.
É muito não.
Dá pra ser feliz com tanto não?
Pagar as contas, ser bem- sucedido, amar, ter filhos - tarefa brava.
Piora, muito, com o peso de todos aqueles nãos.
Tenha fé em uma coisa: dá certo ser adulto e idiota.
Aliás, tudo fica bem mais fácil ser for regado à idiotice, bom humor.
Manuel Bandeira foi um grande homem e um grande poeta.
Disse certa vez:
"E por que essa condenação da piada, como se a vida fosse só feita de momentos graves ou só nesses houvesse teor poético?"
Estava certo.
Empine pipa!!!
Adultos podem (e devem) contar piadas, ir ao fliperama, beliscar o traseiro dos outros, sair pelados pela cozinha.
Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" aceitável.
Teste a teoria.
Uma semaninha, pra começar.
Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que são: passageiras.
A briga, a dívida, a dor, a raiva, tudinho vai passar, então pra que tanta gravidade?
Já fez tudo o que podia para resolver o problema?
Parou, chorou, pediu arrego?
Ótimo, hora da idiotice:
entre na Internet, jogue pebolim, coma um churrasco grego.
Tá numas de empinar pipa no sábado?
Vá.
Quer conversar com sua namorada imitando o Pato Donald mas acha muito boçal?
E é, mas e daí?
Você realmente acha que ela vai gostar menos de você por isso?
Ela não vai, tenha certeza.
Só vai gostar mais, porque é delicioso estarmos com quem sorri e ri de si mesmo.
Eu fico chateado por não ser tão idiota quanto gostaria;
tenho uma mania horrível de, sem querer, recair na seriedade.
Então o mundo fica cinza
e cada lágrima ganha o peso de uma bigorna.
Nessas horas não preciso de cenhos franzidos de preocupação.
Nessas horas tudo de que preciso é uma bela, grande e impagável idiotice.
Como sair pra jogar paintball - ou, melhor ainda, me olhar fixamente no espelho até notar como fico feio com os olhos vermelhos e o nariz escorrendo.
Como fico ridículo quando esqueço que tudo passa.
Bom mesmo é ter o problema na cabeça,
o sorriso na boca e paz no coração!!!!

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