segunda-feira, junho 16, 2003

Recebi isso por e-mail, do Bizonho, e não resisti... Lembrei de quando morava em Pelotas e tentava entender o que eles falavam... A primeira vez que escutei "ir aos pés" achei muito estranho, mas concordo com o cara que escreveu isso, é muito elegante. Fora que o pessoal achava estranho o jeito que eu falava... Acabei me acostumando e até aprendi um pouco de italiano (eu morava com duas gurias que falavam mais italiano do que português!)... Quando voltei para SP, aí sim foi terrível... voltei falando completamente gauchês! Mas, a verdade é que meu jeito de falar ficar meio misturado... não falo nem como paulista, nem como paranaense, nem como gaúcho...


Língua brasileira

Bah! Chega de confusão...
Por Kledir Ramil

"Outro dia encontrei um mandinho, um guri desses que andam pela rua sem carpim., de bragueta aberta, soltando pandorga. Eu vinha de bici descendo a lomba para ir na lancheria comprar bergamota..."
Se você não é gaúcho, provavelmente não entendeu nada do que eu estava contando. No Rio Grade do Sul a gente chama tangerina de bergamota e carne moída de guisado. Bidê, que a maioria usa no banheiro, é o nome que damos para mesinha-de-cabeceira, que em alguns lugares chamam de criado-mudo. E por ai vai. A privada nós chamamos de patente. Dizem que isso começou a chegada dos primeiros vasos sanitários de louça, vindos da Inglaterra, que traziam impresso "Patent" número tal. E pegou. Ir aos pés no RS é fazer cocô. Eu acho trielegante, poético. "Com licença, vou aos pés e já volto".
Uma amiga carioca foi passear em Porto Alegre e precisou de médico. A primeira pergunta foi: Vais aos pés normalmente, minha filha?" Ela na mesma hora levantou e começou a fazer flexão.
O Brasil tem dessas coisas, é um país maravilhoso, com português como língua oficial, mas cheio de dialetos diferentes.
No Rio é " E aí, merrrmão? CB, sangue bom!Vai rolá umach paradach". Até eu entender que merrmão era "meu irmão" levou um tempo.
Em São Paulo eles botam um "i" a mais na frente do "n": "Orra meu! Tô por deintro, mas não tô inteindeindo". E no interiorr falam um erre todo enrolado: " A Ferrrnanda marrrrcô a porrrteira." Dá um nó na língua. A vantagem é que a pronúncia deles no inglês é ótima.
Em Mins, quer dizer, em Minas eles engolem letras e falam Belzonte, Nossenhora e qualquer objeto é chamado de trem. Lembrei-me daquela história do mineirinho na plataforma da estação.. Quando ouviu um apito falou apontando as malas: "Muié, pega os trem que o bicho tá vindo."
No Nordeste é tudo meu rei, bichinho, ó xente. Pai é painho, mãe é mainha, vó é voinha. E para você conseguir falar com o acento típico da região é só cantar a primeira sílaba de qualquer palavra numa nota mais aguda que a seguinte.
Mas o lugar mais curioso de todos é Florianópolis. Lagartixa eles chamam de crocodilhinho de parede. Helicóptero é avião de rosca (que deve ser lido rôchca). Carne moída é boi ralado. Se você precisa pedir um pastel, precisa pedir um envelope de boi ralado. Telefone público, o popular orelhão, é conhecido como poste de prosa e a ficha de telefone, pastilha de prosa. Ovos eles chamam de semente de galinha e motel é lugar de instantinho. E a pronuncia correta de d+e é "di" mesmo e não "dji" como a gente fala. Acho que essa pronúncia vem sendo potencializada pela influencia do castelhano com a invasão de argentinos no litoral catarinense sempre que chega o verão. Alguma coisa eles devem deixar, além do lixo na praia.
Em Porto Alegre, uma empresa tentou lançar um serviço de entregas em domicílio de comida chinesa, o Tele-China. Só que um dos significados de china no RS é prostituta. Claro que não deu certo. Imagina a confusão, um cara pede uma loira as duas da manhã e recebe a sugestão de frango xadrez com rolinho primavera. Banana caramelada! O que é que um cara vai querer com banana caramelada no meio da madrugada?
Tudo isso é muito engraçado mas às vezes dá problema sério. A primeira vez que minha mãe foi ao Rio, entrou numa padaria e pediu: "Me dá um cacete!!!..." Cacete para nós é pão francês. O padeiro caiu na risada e a chamou para um canto, tentando contornar a situação. Ela ingenuamente emendou: "Mas o senhor não tem pelo menos um cacetinho?"

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